terça-feira, 20 de maio de 2014

Entrevista Comunidade Nin-Jitsu

Gaúchos, carismáticos e talentosos. Comunidade Nin-Jitsu, banda porto alegrense que trouxe grandes inovações para o cenário musical brasileiro no final da década de 90, continua conquistando fãs por onde passa. A banda que fez shows ao lado de Raimundos e Charlie Brown Jr esteve em Carazinho, no Hipster Pub, mostrando todo o seu diferencial no palco. Tive a oportunidade de entrevistar os caras, junto com a minha colega Luana Fiorentin. Foi um papo bem divertido e super descontraído! Confere aí:



MundoTeen: Em quase 20 anos de carreira o que mudou?
Gibão: O baterista! (risos)
Mano Changes: Mesmo o Gibão que hoje é o nosso batera, é um cara que tem muita afinidade com a gente, mesma geração, ouve as mesmas coisas, a gente já se conhecia muito bem, já tinha uma amizade, inclusive com o segundo batera e com o primeiro batera que é o Pancho, que fundou a banda junto com a gente. Independente das mudanças pessoais que aconteceram, eu acho que o segredo da Comunidade é que a gente sempre se divertiu muito. Sempre fizemos muita festa e isso acabou de certa forma se traduzindo pras nossas músicas. Começamos a fazer sucesso com coisas que faziam a gente se sentir bem, nós vimos que esse era um norte pra nossa vida como artista. Independente do que aconteceu na minha vida, na vida do Nando, na vida do Fred, a gente sempre tentou passar esse mesmo feeling pra comunidade. Claro que a gente amadurece, claro que a gente muda um pouco às coisas na nossa vida, algumas prioridades, a Comunidade Nin-Jitsu é uma coisa tão sagrada pra gente que nos preocupamos em não ter isso. Não somos uma banda que quer dizer assim “ai, nós evoluímos ao longo do tempo”. A gente até evolui, mas não buscamos essa evolução, buscamos nos basear no que fez sermos conhecidos e no que nos fez ser uma banda querida pelas pessoas.
MundoTeen: De onde surgiu a ideia de misturar diversos ritmos?
Mano Changes: Faz parte da nossa amplitude cultural. Sempre ouvimos muito rock, muita música negra, reagge, funk. Então isso sempre foi uma coisa natural pra gente. As bandas dos anos 90 têm essa referência, essa liberdade para misturar. Quando a gente ouviu “eu só quero ser feliz”, “o rap da felicidade”, aquilo pra nós era a batida do hip hop um pouquinho mais acelerada, já acontecia em Miami com True Life Group, Afrika Bambaataa, então pra nós isso foi muito natural, mas sempre foi uma coisa muito inusitada pras pessoas. E por ser inusitado, acho que a comunidade ainda está viva, firme e forte até hoje, fazendo disco novo, mil grau, dez músicas mil grau!
MundoTeen: E sobre o novo disco?
Mano Changes: A gente acabou de gravar o disco novo, está em fase de mixagem. É um disco bem legal, que tem três grandes hits e outros hits potenciais. É um disco que tem algumas loucurinhas, tem algumas coisas diferenciadas. Fizemos novamente com o Edu Car, que é um irmão nosso, que fez o nosso primeiro disco, então voltamos às raízes para mostrar um pouco da evolução e da história da banda.
Nando: Arriscamos uma praia um pouco mais pop e mais eletrônica do que a gente já vinha fazendo. E ao mesmo tempo nas outras cinco musicas do disco, resolvemos fazer exatamente o que fazemos no palco, uma coisa extremamente orgânica, extremamente visceral, extremamente energética. O gibão tocando as baterias, detonando no estúdio que nem ele toca ao vivo. Então é um disco que tem cinco músicas com uma roupagem um pouco mais eletrônica, um pouco mais pop, e cinco músicas mais orgânicas, que tem de funk mais americano, tipo black music, hardcore, rock, é um disco bem eclético. A gente continua mostrando de tudo, todas as nossas raízes.
Mano Changes: Com muito molho, com muita salsa!
Gibão: É um disco que é inovador, mas mantém a concepção original da banda. Se começar a tocar o disco tu vai saber “isso aí é Comunidade, só pode ser Comunidade Nin-Jitsu!”.
Fred: Até porque o Mano tem essa voz peculiar (risos). A voz do Mano é tão peculiar que nem ele consegue se imitar (risos). Então a gente grava cada vez de um jeito, vai escolhendo os takes. (risos)
Nando: As letras continuam a mesma diversão!
MundoTeen: Vocês escrevem as letras das músicas?
Nando: Sim, todas as músicas são escritas por nós.
Fred: Na verdade a gente psicografa assim, tipo Chico Xavier. (risos)
Nando: A gente escreve um monte de palavras em papeizinhos, mistura tudo e joga pra cima.
Mano Changes: Na verdade todas as nossas letras são um tributo a exuberância da mulher.
Nando: Na verdade a gente não consegue fugir ao tema.
Gibão: Tem como fazer uma tese, cada uma delas tem como ligar a exuberância da mulher. Quantas vocês lembraram aí?
Mano Changes: Inclusive eu to fazendo uns telefonemas pra gente ser indicado pra academia brasileira de letras. (risos)
MundoTeen: Teve algum cantor que serviu de referência pra vocês? Algum ídolo?
Gibão: Afrika Bambaataa
Todos: Bah!
Fred: James Brown
Mano Changes: O legal da Comunidade, é que a gente gosta de muita coisa, a gente é muito eclético. E isso dito até pelo Chad Smith, baterista do Red Hot Chilli Peppers, que em 2002 a gente tocou junto com eles em Porto Alegre no Gigantinho e o Chad Smith nos elogiou dizendo que normalmente as bandas que faziam o show de abertura são influenciadas pelo Red Hot e que a gente era influenciado pelas coisas que influenciavam eles, como George Clinton, Jimi Hendrix. Então a gente gosta mais, não de cantores e sim de algumas sonoridades como Beastie Boys, o Red Hot Chilli Peppers, como Afrika Bambaataa, como True Life Group, mas a Comunidade tem essa peculiaridade por ter sido a primeira banda no planeta a misturar o batidão do funk, o baile funk, o tamborzão, a história da periferia carioca, com a guitarra do rock. Então bem ou mal a gente consolidou uma história inusitada, original e por isso a gente já fez show na Europa, já tocou em vários cantos aí por ter uma sonoridade diferenciada.
MundoTeen: Vocês por serem uma banda gaúcha, sentem a diferença de tocar no Sul e em outro lugar?
Mano Changes: É sempre mais confortável tocar no RS, mas somos super bem recebido em outros estados. É como futebol, quando você joga dentro de casa tu tem obrigação de fazer os três pontos, mas quando tu joga fora de casa, tem que mostrar muito mais futebol pra fazer os três pontos. Então tem essa coisa de querer se superar e ao mesmo tempo se sentir em casa. A gente é uma banda muito ligada ao nosso público então quanto mais a galera interage conosco, quanto mais adrenalina a galera nos dá, mais tocamos de volta. Acho que uma banda de verdade tem que buscar essa energia, porque depois de 20 anos, tem que buscar energia, seja no melhor show ou no pior. Cada um tem o seu exercício nesse sentido e somos dependentes químicos do nosso público.
Gibão: A gente tocou no norte, em Recife, na Amazônia e foi lá que eu percebi como tem fã da banda no Brasil inteiro e como eles lembram do início da banda que foi quando mostramos essa coisa original na música brasileira e eles lembram “bah vocês vieram com aquela mistura, com aquele clipe, detetive”. Eles lembram daquilo, é muito marcante. Aí a gente ia tocar lá no Rio, lá em Recife, em Minas Gerais e eles sabiam quem era a Comunidade. Quando a banda surgiu ela deixou uma marca registrada que nenhuma banda fazia igual. Então depois de 10 anos a gente foi tocar lá, quando eu já tava na banda e eu pude perceber eles comentando sobre o passado da banda. Eu comprei o nosso segundo disco numa loja em Los Angeles, achei na seção de música brasileira, no meio de Djavan, Ivan Lins, Chico Sais e aí Comunidade! Mandei mensagem pra eles e tudo.
MundoTeen: Como vocês avaliam hoje o cenário musical brasileiro ?
Fred: O cenário precisa de pessoas como a gente. Com atitude, com personalidade, geração Comunidade, Raimundos. É isso aí!
Mano Changes: Falou pouco, mas falou bonito! (risos)
Nando: A música brasileira está carente do rock.
Fred: Mas o Mc Guime é mil grau! (risos) E o Emicida também!
Mano Changes: Essas são as coisas mais legais! Mas o rock está vivo, as pessoas falam “ah, o sertanejo, tudo”, mas tem espaço pra todo mundo, a gente não tem preconceito com nenhum som. Tocamos no Planeta Atlântida, junto com Raimundos e o G1 fez uma enquete perguntando qual foi o melhor show do sábado, com Skank, com The Offspring, com um monte de gente e Comunidade e Raimundos fica em 1º lugar com 56% dos votos e hoje a gente está aqui na mesma região, com a casa lotada é a mostra que o rock continua firme e forte. O rock brasileiro teve uma perda muito significativa que foi o Chorão, porque ele dizia tudo isso que o Fred disse, ele não tinha medo de dizer as coisas, ele era um cara verdadeiro, ele era um cara que às vezes cometia alguns equívocos, mas era muito autêntico e quando a gente é autentico tem muito mais probabilidade de errar, mas tem muito mais probabilidade de fazer coisas legais, de fazer coisas inusitadas. O Chorão gravou conosco “Tudo o que ela gosta de escutar”, no DVD que lançamos em 2013 e eu acho isso, que nós estamos aí pra continuar fazendo o que a gente gosta, que é fazer festa com a galera, se divertir. A Comunidade nunca deixou de atender as pessoas, nunca deixou de receber as pessoas que gostam de nós porque é o mínimo que podemos fazer no momento que a gente gosta muito do que a gente faz. É uma honra pra gente estar no Hipster aqui, muito astral, fomos muito bem recebidos. São poucos os contratantes que sabem valorizar um artista e isso é bem legal mesmo.
MundoTeen: Uma mensagem que vocês deixam pros fãs
Mano Changes: Cara, não desistam da gente, porque a gente nunca vai desistir da nossa história. A nossa história é muito intensa, eu, o Fred, o Nando e o Gibão. Principalmente eu, o Fred e o Nando, a gente é irmão mesmo, não é de sangue, mas o Fred e o Nando são irmãos mesmo, verdadeiros. Eu conheço eles desde os três anos de idade. A gente se atura muito, se ama e é isso que a gente passa no palco. Passamos uma coisa muito verdadeira que não é pretenciosa, bem pelo contrario, fazemos música pra gente, quando a gente faz música pra gente, acabamos sendo muito mais autênticos.
Gibão: Entendi nada! (risos)

Nando dormiu e faltou o Gibão pra completar a foto!


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