domingo, 31 de março de 2013

Foi bom você ter vindo



Oi. Nem tinha visto você chegar. Tava aqui distraída com os meus pensamentos, nem liga. Faz um tempinho que você não vem aqui. Pega uma cadeira, senta. Quer um pedacinho do bolo? Eu mesma fiz. Sim, decidi me aventurar na cozinha e até que não ficou assim tão ruim, pode comer. Se quiser, é claro.
Mas e aí, como está tudo? Fiquei surpresa por você ter vindo, afinal você nunca liga avisando que vem. Você nunca liga, na verdade. E nem dá noticias também. Da última vez que nos falamos você queria comprar um carro vermelho, eu acho. Resolveu esperar? Tá certo, não é bom fazer as coisas tão depressa assim. É, eu lembro como tudo aconteceu rápido com a gente. Mas esquece, já passou. Nem foi nada assim tão grande se você quer saber. Acho que serviu pra gente aprender a não ser tão apressadinho, não é?!

***

O que? Desculpa, não estava prestando atenção no que você disse. É, minha irmã está bem, sim. Fez o intercambio pra Itália e não voltou mais. Lembra do quanto ela era apaixonada pela gastronomia de lá? Pois então, abriu um restaurante e tá vivendo o sonho dela. Não foi fácil, a gente sabe. Mas pelo menos ela tem a coragem que sempre faltou em mim pra realizar os sonhos. Fico feliz por ela. Alguém tem que dar orgulho pra essa família.
Tá de brincadeira, né? A única coisa que eu fiz foi ganhar um concurso de dança na 4ª série. Ah, e também ganhar um certificado de participação num concurso de declamação. Até hoje lembro a poesia décor. Era o soneto de separação do Vinicius de Moraes. Isso soa irônico agora. Mas nunca fiz nada grandioso. Outra coisa, os meus pais sempre quiseram um netinho ou uma netinha. E eu nunca consegui dar a eles um genro se quer. Não, você não conta. Não mais. A nossa história foi turbulenta demais pra contar. Nem sei como somos amigos ainda. Ou, como tentamos ser amigos ainda. 

***

Achei uma milagre não termos discutido sobre nada até agora. Verdade, ainda dá tempo! Ou você já pode ir embora e evitar que alguma briga possa acontecer. Não, não estou te mandando embora. Fica mais um pouco. Eu gosto de ter você aqui, apesar de tudo. Sim, talvez isso seja uma confissão. Eu não sei por que você ainda me visita, mas eu gosto disso. Faz parecer que você ainda se importa comigo. Muitas das vezes parece que você me despreza. Me esquece. E eu não sei qual o motivo que sempre te faz vir a minha casa de novo. Talvez seja porque você sente falta de alguém. Não de mim, necessariamente. Porque você sabe que eu sempre vou estar aqui quando você precisa conversar, ao contrário das outras pessoas. Em casa, com meus livros. E agora minhas aventuras sem muito sucesso na cozinha. Afinal, você não tocou no pedaço de bolo que cortei pra você. Não precisa comer agora só porque eu falei!

***

Ah, você já vai embora? Tudo bem, foi bom você ter vindo. Venha de novo quando quiser. Você sabe que eu não vou sair daqui e me aventurar além dos muros da minha casa. Você me conhece. Porém agora já não sei se você fez bem ou mal em vir. Mas, já falei demais, não é mesmo? Não quero atrasar o que quer que você tenha.  Vem, vou te levar até a porta, você sabe que ela está sempre aberta. Principalmente pra você.
Ah, manda um beijo pra sua mãe! E volta, quando quiser. E quando sentir falta de alguém de verdade, que você sabe que vai estar sempre esperando você chegar, apesar de tudo. Um beijo.

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